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RITO PARA SEPARAÇÕES AMOROSAS






Já vivi algumas separações, mas uma delas me desnudou por completo. Na primeira noite sozinha, lembro-me de chorar como uma criança perdida, gritando silenciosamente por um colo que não viria. A dor era tão intensa que parecia mais do que emocional: era física. Parecia que toda a minha pele havia sido arrancada, e eu estava ali, carne viva, enfrentando o mundo sem proteção.


Eu sabia que era passageiro. Mas naquele momento, parecia eterno. Havia um medo profundo: "E se essa dor durar para sempre?


Naquela semana, cansada de só chorar, tomei coragem e liguei para uma amiga. Ela costumava usar remédios fortes para dormir, e eu queria o mesmo: algo que me desligasse do sofrimento, nem que fosse por um mês. Sua resposta, no entanto, me despertou de outra maneira:

“Ju, eu sei que está doendo, mas quanto antes você se permitir sentir, mais rápido isso passa.”

Suas palavras me atingiram como um raio. Era isso: eu precisava sentir. Então, reuni toda a minha coragem e decidi encarar a dor. De frente. Sem fugas.


Os dias que vieram foram árduos. Vivi aquilo completamente sozinha, isolada no silêncio da minha casa. Durante quarenta dias, pintei, jejuei e orei. Era como atravessar um deserto espiritual. Foi um processo profundo, difícil, mas absolutamente transformador.


Separações amorosas são, de fato, como pequenas mortes. Você precisa permitir que algo morra para que um novo renascimento aconteça. E naquele luto, eu enterrei não apenas um grande amor, mas também as versões de mim mesma que existiam ao lado dele: os sonhos que criei, as partes de mim que floresceram e as que se perderam.


 

O PODER DOS RITUAIS


Somos seres ritualísticos. Desde os primórdios da humanidade, marcamos nossas passagens com rituais. Celebramos nascimentos, aniversários, a chegada da puberdade, os casamentos, as mortes...

Esses ritos são essenciais para que a mente e o coração assimilem a transitoriedade da vida.

A natureza nos ensina isso de forma sutil: o verão começa oficialmente no dia 21 de dezembro no hemisfério sul, mas a estação não surge abruptamente. Ela chega aos poucos, em suaves transições.

Ainda assim, precisamos do marco.


O rito é o ponto final do capítulo. Ele precisa existir para que uma nova página possa iniciar.


 

RITUALIZANDO UMA SEPARAÇÃO


Se casamentos são celebrados com festas, votos e danças, por que não ritualizamos as separações? Não me refiro a uma cerimônia comercial, com bolo e banda – embora isso fosse, no mínimo, curioso. Falo de algo íntimo, profundo, sagrado.

Desde que descobri o poder dos ritos, passei a ritualizar todos os meus finais de ciclo. E quero compartilhar com você, como eu faço.


A CARTA SAGRADA

Quando percebo que algo chegou ao fim – seja um relacionamento, uma fase da vida ou mesmo um sonho – escrevo uma carta.


No caso de uma separação amorosa, escrevo como se fosse para a pessoa, mas com um detalhe importante: imaginando que ela já não está mais neste mundo.

Essa carta não deve, em hipótese alguma, ser entregue.

A ideia aqui não é reviver mágoas nem lançar acusações. É um ato de cura, não de revanche. Escreva com sinceridade, gratidão e amor.

Imagine que a pessoa lerá suas palavras no céu, cercada de luz.

Lembre-se: o perdão é a chave. Mesmo que você ainda esteja machucado, escreva com a intenção de abençoar a pessoa.

  • Relembre os momentos bons.

  • Agradeça o que aprenderam juntos.

  • Reconheça como aquele relacionamento ajudou você a crescer.

  • Permita-se falar das dores, mas sem acusar.

Por fim, visualize a pessoa envolta em luz, feliz e em paz. Evite imaginar o que seria melhor, ou que deveria acontecer com ela. O ego nunca sabe o que é o melhor para ninguém. Só Deus pode saber.

Entregue-a ao divino, confiando que tudo está em perfeita ordem.

Depois disso, ore com sinceridade e queime a carta. O fogo transformará suas palavras em energia, libertando tanto você quanto a outra pessoa.


 

PREPARANDO O AMBIENTE


Este rito merece cuidado. Escolha um ambiente tranquilo, onde você se sinta à vontade para mergulhar na profundidade de suas emoções.


Crie um altar: Se tiver um, use-o. Caso contrário, monte um espaço simbólico com objetos significativos – como velas, incensos, pedras ou algo que conecte você ao sagrado.

Escolha músicas elevadas: Evite músicas que reforcem a dor ou tragam lembranças diretas do relacionamento. Prefira sons que inspirem leveza e conexão espiritual.

Dê tempo ao luto:A tristeza virá, e tudo bem. Permita-se senti-la. Derrame suas lágrimas. Não apresse o processo.



 

NOTAS

  • A cura acontece em camadas. Você não precisa se sentir "totalmente bem" em poucos meses. Dê tempo para seu coração se restaure.

  • A solitude é uma oportunidade de ouvirmos os sussuros do nosso verdadeiro Eu.

  • Desilusões amorosas são bençãos, pois tudo que te DES-ILUDE te liberta.

  • Se envolver com outra pessoa muito cedo, pode ser trágico para os dois. 

  • Existe vida pós separações, ela é mágica e está te esperando!

  • É preciso perdão e desapego do personagem que construiu ao lado daquela pessoa e perceber que a nossa vida não passa de narrativas contadas por nós mesmo. 

  • Nós escolhemos a narrativa que queremos contar hoje. Decida ser um novo Ser. Começar uma nova história. Um novo capítulo onde o personagem principal MERECE ser livre e feliz. 

  • A mágoa é um fantasma aprisionador. Ela não conserta o passado, intoxica o presente e consome o futuro. 

  • O perdão é a única saída.



 

UMA CURIOSIDADE

Quando me mudei de casa, ritualizei essa passagem.

Foi uma casa muito acolhedora, que vivi momentos felizes, mas eu precisava me mudar. Foi dolorido e fiz uma carta para a casa, como se fosse ela fosse consciente.

Agradeci tudo o que ela me ofereceu, relembrei momentos, reconheci seu valor. Me despedir e abençoei para que ela acolhesse outros moradores também.

Fiz uma fogueirinhas, queimei a carta e borrifei a casa com um perfume que comprei pra ela.

Foi tão lindo, tão simbólico, tão amoroso. Pude sair da casa sem apegos, só com as boas lembranças e hoje não sinto que nada ficou para trás. Não tenho vontade de voltar e nem fantasmas de sonhar que ainda estou lá como acontecia em outras casas. 


Se você chegou até aqui

Saiba que apesar de parecer, nunca estamos realmente sozinhos! Peça ajuda a amigos, familiares, aos anjos, santos ou a sua própria consciência.

E sim, eu superei uma separação muito dolorida e você também vai superá-la se permitir senti-la, viver o luto e perdoar.


E se quiser compartilhar algo, fique a vontade para deixar uma mensagem nos comentários.


Com devoção,

Ju Rizieri.





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